O Pacto, Jodi Picoult | Opinião Livros

O Pacto
Capa do livro O Pacto de Jodi Picoult.

Sinopse:
Será que conhecemos mesmo os nossos filhos? Há dezoito anos que os Harte e os Gold vivem lado a lado, partilhando tudo, desde comida chinesa e varicela até irem buscar os filhos uns dos outros à vez. Quer os pais quer os filhos são melhores amigos, por isso, não é nenhuma surpresa quando a amizade entre Chris e Emily se transforma em algo mais na altura do liceu. Tornaram-se almas gémeas no momento em que Emily nasceu. Quando ligam do hospital por volta da meia-noite, ninguém está preparado para a verdade terrível: Emily, com apenas dezassete anos, está morta devido a um tiro na cabeça, aparentemente resultado de um pacto suicida. A arma contém uma bala que Chris diz à polícia estar-lhe destinada, mas uma detective local tem dúvidas.Os Harte e os Gold, num único momento aterrador, têm de encarar o pior medo de um pai: será que conhecemos mesmo os nossos filhos?

Opinião: 

Será que conhecemos mesmo os nossos filhos?

Apesar do que podemos concluir com a sinopse deste emocionante Bestseller Internacional, O Pacto acaba por retratar muito mais do que uma trágica história de amor ao estilo de Romeu e Julieta. Leva-nos numa viagem de avanços e recuos, onde aquilo que julgamos inicialmente vem a revelar-se errado, e aquilo que julgamos depois também não é a verdade, de facto a talentosa Jodi Picoult, autora que já havia ouvido falar, mas da qual desconhecia a obra, leva-nos numa viagem pela mente de dois adolescentes aparentemente normais, com uma vida que muitos gostavam de ter. No entanto, nem tudo o que parece é, e Jodi sabe conduzir o enredo com as suas inúmeras personagens numa espécie de jogo do gato e do rato connosco, o leitor.

Costumo prefirir romances cor de rosa, porque não quero sofrer demasiado com as personagens dum livro, apesar de ser mesmo muito raro que me emocione dessa forma. Não, não chorei baba e ranho ao ler este livro, mas não deixei de sentir uma espécie de murro no estômago, devido à força da sua mensagem: um só momento pode alterar toda uma vida, e de uma forma completamente cruel.

Chris Harte e Emily Gold são dois adolescentes com um futuro promissor, apenas um, porque as suas vidas estão ligadas desde o início dos seus dias até ao fim dos mesmos. Aparentemente, nasceram um para o outro, são a metade de um todo. Mas será que o seu mundo fechado é assim tão perfeito? O principal problema prende-se com um grande segredo que Emily vai escondendo, que acaba por a consumir lentamente ao longo do tempo, até que o inicio da sua vida sexual com Chris faz transbordar a taça e, sentindo-se encurralada opta pela saída mais fácil, o suicídio, recusando-se a enfrentar os pais e Chris. Ao pedir de modo egoísta que Chris a ajude com o seu suicídio, Emily acaba por o colocar entre a espada e a parede, fazendo com que o “mundo prefeito” de Chris colidisse com o seu e este enfrentasse uma espécie de tempestade psicológica que irá culminar no acontecimento com o qual se inicia o livro e, para qual, o mesmo vai convergido de modo, por vezes lento, por vezes demasiado rápido.

Os pais de ambos vão lidar com o acontecimento de maneiras diferentes, fruto das suas personalidades, dos seus modos de interpretar os acontecimentos, e da fé que possuem nos seus filhos.

O advogado de Chris, Jordan, foi a minha personagem favorita, antes do julgamento achava-o irritante e egocêntrico, durante o julgamento percebi que aquele homem foi feito para isso mesmo, para estar numa sala de tribunal defendendo o seu cliente, argumentando e contra-argumentando as testemunhas e factos apresentados pela acusação. O homem parecia feito para isso mesmo, e realmente o foi, mas o facto de o parecer tão naturalmente tornava tudo muito mais encantador.

Atenção: este é um livro forte, com temas polémicos, mas ao mesmo tempo a autora consegue expressar a sua mensagem de forma natural e convincente. A história aqui contada é muito mais profunda do que a resolução de um caso de suicídio ou homicídio, trata-se de muito mais. O pacto que o título da obra refere não é necessariamente um pacto de suicídio, mas sim um pacto para a vida.

A questão que coloco no fim desta leitura é simples e prende-se apenas com a minha própria reflexão ao ler este livro, não com as palavras da autora: Seria a relação entre Chris e Emily saudável sob o ponto de vista psicológico para ambos? Não me pareceu. No fim das contas, tratava-se de um amor carnal ou fraternal aquilo que ambos sentiam um pelo outro? Talvez Emily não sentisse o mesmo que o Chris, mas como era tão obcecada por ele não podia suportar viver sem ele, e aí pode ter residido outra das suas fontes de angústia, uma que não foi desenvolvida pela autora, mas que me parecia bastante interessante.

Um excelente livro!

Sobre a autora:

Jodi Picoult
Jodi Picoult
Jodi Picoult nasceu e cresceu em Long Island. Estudou Inglês e escrita criativa na Universidade de Princeton e publicou dois contos na revista Seventeen enquanto ainda era estudante. O seu espírito realista e a necessidade de pagar a renda levaram Jodi Picoult a ter uma série de empregos diferentes depois de se formar: trabalhou numa correctora, foi copywriter numa agência de publicidade, trabalhou numa editora e foi professora de inglês. Aos 38 anos é autora de onze best sellers e em 2003 foi galardoada com o New England Bookseller Award for Fiction.

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